quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Música: que efeitos apresenta?


A música tem, ao longo dos anos, acompanhado a história do homem e, deste modo, a sua evolução e vivência. Sabe-se, também, que desde a época de Florence Nightingale, já a música era reconhecida pelo seu potencial terapêutico em contexto dos cuidados com a pessoa (Leão, Puggina, Gatti, Almeida & Silva, 2011).
Atualmente, diversos estudos comprovam que a música provoca, de facto, efeitos orgânicos na pessoa e que, no âmbito da enfermagem, apresenta um forte potencial terapêutico (Leão et al., 2011). Porém, embora a maioria das pessoas goste de ouvir música de modo regular, uma grande parte não se apercebe do impacto da mesma no seu organismo (Campbell, 2000). Estes efeitos advêm da audição dos sons, da interpretação que é realizada no cérebro e, por fim, pelas sensações experienciadas no corpo (Leão et al., 2011). Deste modo, pode afirmar-se que a música apresenta, de facto, efeitos nas diversas vertentes da pessoa pelo que, usada de forma adequada, poderá ser vantajoso a sua aplicação no contexto dos cuidados de enfermagem.
Assim, alguns dos efeitos benéficos que poderão advir da adequada utilização da música passam pela redução da dor, do stresse e da ansiedade, exercendo igualmente influência a nível do relaxamento, da memória e do conforto (Leão et al., 2011).
A musicoterapia é, então, uma auxiliar da Medicina, que se integra nos outros cuidados, de modo a reinserir a pessoa na sociedade e a prevenir as doenças físicas e mentais (Benenzon, 1985). Deste modo, Leão et al. (2011) descrevem a utilização da música como um recurso complementar no cuidado com a pessoa, em qualquer das suas fases do ciclo vital, com o intuito de restabelecer o equilíbrio e o bem-estar, favorecendo, ainda, a comunicação. A nível da enfermagem, a música tem o poder de, na maior parte dos casos, minimizar os efeitos desagradáveis gerados pelo internamento hospitalar e pela própria doença, promovendo um ambiente de trabalho mais favorável entre os profissionais de saúde, pessoas doentes e seus familiares, pelo que deve ser um recurso a integrar na prática da profissão.
De acordo com a literatura, a música exerce influência "na digestão, nos neurotransmissores, na circulação, na nutrição e na respiração" (Leão et al., p. 5) e tem a capacidade de incrementar ou reduzir a energia muscular, de acordo com a intensidade e a altura dos estímulos sonoros. Provoca ainda uma "sensação de relaxamento, alegria e prazer, reações autonômicas [sic] como lágrima nos olhos, evocação de memórias, sensação de paz ou reequilíbrio espiritual" (Leão et al., 2011, p. 5).
Os estudos acerca dos efeitos da música concentram-se, nomeadamente, na influência desta sobre a ansiedade, a depressão, o stresse e a dor, embora já se tenham evidências do efeito sobre outros fatores, entre os quais neurológicos, cardiovasculares e psicoemocionais (Leão et al., 2011).
Segundo Campbell (2000), ouvir música em casa, no emprego ou na escola pode auxiliar na criação de um equilíbrio dinâmico entre o hemisfério esquerdo, direcionado para a lógica, e o direito, mais orientado para a intuição, promovendo, deste modo, a criatividade. A música pode ser, então, considerada um “pacemaker natural” (p. 99), dado que o ritmo cardíaco tende a sintonizar-se com o som e com a primeira, aumentando ou diminuindo o seu ritmo consoante o ritmo destes (Benenzon, 1985; Campbell, 2000). Campbell (2000) defende, no entanto, que o contrário também é verificável, uma vez que num estudo se comprovou a tendência de as pessoas preferirem determinados estilos musicais, com base no seu próprio ritmo cardíaco. Consequentemente, também a temperatura corporal é afetada, em associação com a circulação. Comprova-se, igualmente, que a música reduz a tensão muscular, melhorando o movimento e a coordenação corporal, pelo que pode ser utilizada na recuperação e na reestruturação de movimentos repetitivos após acidentes e doenças. Por outro lado, a música pode estimular a digestão, bem como aumentar os níveis de endorfinas que, segundo diversos estudos, tendem a auxiliar na redução da dor e na indução de euforia, permitindo ao corpo a criação do seu próprio anestésico e a melhoria da função imunitária (Benenzon, 1985; Campbell, 2000).
A música altera ainda a perceção de espaço e de tempo, fazendo com que o meio envolvente possa parecer mais leve, espaçoso, “ordenado, eficiente e ativo [sic]” (Campbell, 2000, p. 106) e que, de acordo com o seu ritmo, o tempo passe mais ou menos depressa. Para além de todos estes benefícios, a música pode reforçar a memória, a aprendizagem e a produtividade, promovendo a resistência e gerando uma maior sensação de segurança e bem-estar. Por fim, a música intensifica ainda o romance a sensualidade.
Tendo em conta os múltiplos efeitos que poderão advir através da utilização da música, segue-se um pequeno resumo dos principais efeitos de diferentes tipos de música, segundo Campbell (2000):
- O canto gregoriano proporciona sensações de relaxamento, sendo útil para um estudo tranquilo, meditação e para redução do stress;
- A música barroca mais lenta transmite sensações de estabilidade, ordem, previsibilidade, segurança, criando um ambiente estimulante para o estudo ou o trabalho;
- A música clássica melhora “a concentração, a memória e a percepção [sic] espacial” (p. 113);
- A música romântica é indicada para expressar simpatia, compaixão e amor;
- A música impressionista pode auxiliar a desbloquear os impulsos criativos, pondo a pessoa em contacto com o subsconsciente;
- O jazz, os blues, dixieland, soul, calipso, reggae e outras formas musicais e de dança, nomeadamente originadas em países africanos, pode “libertar alegria e tristeza profundas, transmitir espírito e ironia” (p. 113);
- A salsa, a rumba, a maranga, a macarena e outros tipos de música sul-americana conferem a característica de, em simultâneo, acalmar e despertar;
- A música pop e country pode originar sensações de bem-estar;                         
- A música rock pode libertar tensões e estimular os movimentos ativos, disfarçando a dor e reduzindo efeitos desagradáveis que possam ser provocados por outros sons;
- A música ambiente pode incitar “um estado de vigília descontraída” (p. 114):
- O heavy metal, o punk, o rap, o hip hop e o grunge podem excitar o sistema nervoso, levando a um comportamento dinâmico e expressão pessoal” (p. 114)
- A música religiosa pode originar sentimentos de profunda paz e consciência espiritual, auxiliando na libertação do sofrimento.
No entanto, apesar de todos os benefícios já explicitados, nem todos os sons se mostram positivos no organismo, uma vez que ruídos a um nível mais elevado, ruídos agudos ou, por outro lado, de baixa frequência, podem causar um desequilíbrio no organismo e provocar sentimentos negativos como o stress, a dor e o desequilíbrio do organismo (Campbell, 2000).
Assim, a utilização da música enquanto intervenção na prática da enfermagem é um recurso com necessidade de uma maior exploração, de forma a que seja integrada nos cuidados prestados. Apesar do seu baixo custo e da aparente facilidade de aplicação, esta é, de facto, uma intervenção com um alto nível de complexidade, que necessita de dedicação por parte da pessoa que a emprega para que seja utilizada de forma adequada (Leão et al., 2011).

Referências Bibliográficas

Benenzon, R.O. (1985). Manual de musicoterapia. Rio de Janeiro: Enelivros.

Campbell, D. (2000). O efeito Mozart: clássica, jazz, rock ou pop, a música ajuda a tratar o corpo, a fortalecer a mente e a despertar o espírito criativo. Cruz Quebrada: Estrela Polar.

Leão, E.R., Puggina, A.C., Gatti, M.F.Z., Almeida, A.P. & Silva, M.J.P. (2011). Música e enfermagem: um recurso integrativo (cap. 10). In L. F. Salles & M. J. P. da Silva (org.). Enfermagem e as práticas complementares em saúde. São Caetano do Sul, SP: Yendis Editora.

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