A
música tem, ao longo dos anos, acompanhado a história do homem e, deste modo, a
sua evolução e vivência. Sabe-se, também, que desde a época de Florence
Nightingale, já a música era reconhecida pelo seu potencial terapêutico em
contexto dos cuidados com a pessoa (Leão, Puggina, Gatti, Almeida & Silva,
2011).
Atualmente, diversos
estudos comprovam que a música provoca, de facto, efeitos orgânicos na pessoa e
que, no âmbito da enfermagem, apresenta um forte potencial terapêutico (Leão et
al., 2011). Porém, embora a maioria das pessoas goste de ouvir música de modo
regular, uma grande parte não se apercebe do impacto da mesma no seu organismo
(Campbell, 2000). Estes efeitos advêm da audição dos sons, da interpretação que
é realizada no cérebro e, por fim, pelas sensações experienciadas no corpo
(Leão et al., 2011). Deste modo, pode afirmar-se que a música apresenta, de
facto, efeitos nas diversas vertentes da pessoa pelo que, usada de forma
adequada, poderá ser vantajoso a sua aplicação no contexto dos cuidados de
enfermagem.
Assim, alguns dos
efeitos benéficos que poderão advir da adequada utilização da música passam
pela redução da dor, do stresse e da ansiedade, exercendo igualmente influência
a nível do relaxamento, da memória e do conforto (Leão et al., 2011).
A
musicoterapia é, então, uma auxiliar da Medicina, que se integra nos outros
cuidados, de modo a reinserir a pessoa na sociedade e a prevenir as doenças
físicas e mentais (Benenzon, 1985). Deste modo, Leão et al.
(2011) descrevem a utilização da música como um recurso complementar no cuidado
com a pessoa, em qualquer das suas fases do ciclo vital, com o intuito de
restabelecer o equilíbrio e o bem-estar, favorecendo, ainda, a comunicação. A
nível da enfermagem, a música tem o poder de, na maior parte dos casos,
minimizar os efeitos desagradáveis gerados pelo internamento hospitalar e pela
própria doença, promovendo um ambiente de trabalho mais favorável entre os
profissionais de saúde, pessoas doentes e seus familiares, pelo que deve ser um
recurso a integrar na prática da profissão.
De acordo com a
literatura, a música exerce influência "na digestão, nos
neurotransmissores, na circulação, na nutrição e na respiração" (Leão et
al., p. 5) e tem a capacidade de incrementar ou reduzir a energia muscular, de
acordo com a intensidade e a altura dos estímulos sonoros. Provoca ainda uma
"sensação de relaxamento, alegria e prazer, reações autonômicas [sic] como lágrima nos olhos, evocação de
memórias, sensação de paz ou reequilíbrio espiritual" (Leão et al., 2011, p.
5).
Os estudos acerca dos
efeitos da música concentram-se, nomeadamente, na influência desta sobre a
ansiedade, a depressão, o stresse e a dor, embora já se tenham evidências do
efeito sobre outros fatores, entre os quais neurológicos, cardiovasculares e
psicoemocionais (Leão et al., 2011).
Segundo Campbell
(2000), ouvir música em casa, no emprego ou na escola pode auxiliar na criação
de um equilíbrio dinâmico entre o hemisfério esquerdo, direcionado para a
lógica, e o direito, mais orientado para a intuição, promovendo, deste modo, a
criatividade. A música pode ser, então, considerada um “pacemaker natural” (p.
99), dado que o ritmo cardíaco tende a sintonizar-se com o som e com a primeira,
aumentando ou diminuindo o seu ritmo consoante o ritmo destes (Benenzon, 1985; Campbell, 2000). Campbell
(2000) defende, no entanto, que o contrário também é verificável, uma vez que
num estudo se comprovou a tendência de as pessoas preferirem determinados
estilos musicais, com base no seu próprio ritmo cardíaco. Consequentemente,
também a temperatura corporal é afetada, em associação com a circulação. Comprova-se,
igualmente, que a música reduz a tensão muscular, melhorando o movimento e a
coordenação corporal, pelo que pode ser utilizada na recuperação e na
reestruturação de movimentos repetitivos após acidentes e doenças. Por outro
lado, a música pode estimular a digestão, bem como aumentar os níveis de
endorfinas que, segundo diversos estudos, tendem a auxiliar na redução da dor e
na indução de euforia, permitindo ao corpo a criação do seu próprio anestésico
e a melhoria da função imunitária (Benenzon,
1985; Campbell, 2000).
A música altera ainda a
perceção de espaço e de tempo, fazendo com que o meio envolvente possa parecer
mais leve, espaçoso, “ordenado, eficiente e ativo [sic]” (Campbell, 2000, p. 106) e que, de acordo com o seu ritmo, o
tempo passe mais ou menos depressa. Para além de todos estes benefícios, a
música pode reforçar a memória, a aprendizagem e a produtividade, promovendo a
resistência e gerando uma maior sensação de segurança e bem-estar. Por fim, a
música intensifica ainda o romance a sensualidade.
Tendo em conta os
múltiplos efeitos que poderão advir através da utilização da música, segue-se
um pequeno resumo dos principais efeitos de diferentes tipos de música, segundo
Campbell (2000):
- O canto gregoriano proporciona
sensações de relaxamento, sendo útil para um estudo tranquilo, meditação e para
redução do stress;
- A música barroca mais lenta transmite sensações
de estabilidade, ordem, previsibilidade, segurança, criando um ambiente
estimulante para o estudo ou o trabalho;
- A música clássica melhora “a
concentração, a memória e a percepção [sic]
espacial” (p. 113);
- A música romântica é indicada para
expressar simpatia, compaixão e amor;
- A música impressionista pode auxiliar
a desbloquear os impulsos criativos, pondo a pessoa em contacto com o
subsconsciente;
- O jazz,
os blues, dixieland, soul, calipso, reggae e outras formas musicais e de
dança, nomeadamente originadas em países africanos, pode “libertar alegria e
tristeza profundas, transmitir espírito e ironia” (p. 113);
- A salsa, a rumba, a maranga, a
macarena e outros tipos de música sul-americana conferem a característica de,
em simultâneo, acalmar e despertar;
- A música pop e
country pode originar sensações de bem-estar;
- A música rock pode
libertar tensões e estimular os movimentos ativos, disfarçando a dor e
reduzindo efeitos desagradáveis que possam ser provocados por outros sons;
- A música ambiente
pode incitar “um estado de vigília descontraída” (p. 114):
- O heavy metal, o punk,
o rap, o hip hop e o grunge podem excitar o sistema nervoso, levando a um
comportamento dinâmico e expressão pessoal” (p. 114)
- A música religiosa pode originar
sentimentos de profunda paz e consciência espiritual, auxiliando na libertação
do sofrimento.
No entanto, apesar de
todos os benefícios já explicitados, nem todos os sons se mostram positivos no
organismo, uma vez que ruídos a um nível mais elevado, ruídos agudos ou, por
outro lado, de baixa frequência, podem causar um desequilíbrio no organismo e
provocar sentimentos negativos como o stress, a dor e o desequilíbrio do
organismo (Campbell, 2000).
Assim, a utilização da
música enquanto intervenção na prática da enfermagem é um recurso com
necessidade de uma maior exploração, de forma a que seja integrada nos cuidados
prestados. Apesar do seu baixo custo e da aparente facilidade de aplicação,
esta é, de facto, uma intervenção com um alto nível de complexidade, que
necessita de dedicação por parte da pessoa que a emprega para que seja utilizada
de forma adequada (Leão et al., 2011).
Referências Bibliográficas
Benenzon, R.O. (1985). Manual de musicoterapia. Rio de Janeiro:
Enelivros.
Campbell, D. (2000). O
efeito Mozart: clássica, jazz, rock ou pop, a música ajuda a tratar o corpo, a
fortalecer a mente e a despertar o espírito criativo. Cruz Quebrada: Estrela
Polar.
Leão, E.R., Puggina,
A.C., Gatti, M.F.Z., Almeida, A.P. & Silva, M.J.P. (2011). Música e
enfermagem: um recurso integrativo (cap. 10). In L. F. Salles & M. J. P. da
Silva (org.). Enfermagem e as práticas complementares em saúde. São
Caetano do Sul, SP: Yendis Editora.
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