“Com
dois anos e meio, Sam foi diagnosticado como autista. Fazendo uma
retrospectiva, Young reconhece que a incapacidade de processar e prioritizar
dados sensoriais começou muito cedo. Agora, Sam tem sete anos e revela uma
baixa tolerância de dor ao som, entre muito outros comportamentos autistas. Têm
acontecido enrolar-se como um novelo ao som do trânsito na rua ou andar pela
casa com as mãos a tapar os ouvidos, falando entredentes. Tem também ataques de
cólera que se tornaram tão graves que teve de ser medicado.
Young frequenta os meus workshops há quase um ano e tem discutido formas de ajudar o filho com a música e o som. Mas quando tentava cantar-lhe, Sam dizia-lhe para «parar de cantar». Quando ela entoava, ele dizia-lhe para «ir embora». Ao toque do tambor também reagia com «tambor não». Mas um dia, enquanto lia uma história sobre cólicas e música, Young teve a inspiração de fazer o som da sirene. No momento em que começou, o filho aproximou-se da mãe e encostou-se a ela, as costas contra o peito dela, onde o som ressoava mais. Sam agarrou-a, puxou-lhe a cabeça para junto da sua e fez-lhe um sorriso largo e conhecedor. Young ficou estupefacta. Parou e esperou pela reacção. «Continua», disse Sam.
Céptica, Young testou o som da sirene. De uma forma tipicamente autista, o filho não conseguia parar de ver um filme até acabar o genérico. Ele estava a cantar com My Fair Lady quando a mãe disse que tinham de desligar a televisão. Como Sam começou a ficar enervado, Young disse: «Sam, está tudo bem…(sirene)…temos de sair agora…(sirene)… podemos ver o filme depois …(sirene)…»
Sam acalmou. Ainda não queria deixar a mãe desligar a televisão, mas de repente começo a entoar com ela. Depois disse: «abraça-me», sentou-se ao seu colo, pôs os braços à volta da mãe e segredou: «canta comigo». Finalmente, Young pôde fazer avançar o filme rapidamente (anteriormente impossível) para poderem ver o genérico e desligar o aparelho.”
Young frequenta os meus workshops há quase um ano e tem discutido formas de ajudar o filho com a música e o som. Mas quando tentava cantar-lhe, Sam dizia-lhe para «parar de cantar». Quando ela entoava, ele dizia-lhe para «ir embora». Ao toque do tambor também reagia com «tambor não». Mas um dia, enquanto lia uma história sobre cólicas e música, Young teve a inspiração de fazer o som da sirene. No momento em que começou, o filho aproximou-se da mãe e encostou-se a ela, as costas contra o peito dela, onde o som ressoava mais. Sam agarrou-a, puxou-lhe a cabeça para junto da sua e fez-lhe um sorriso largo e conhecedor. Young ficou estupefacta. Parou e esperou pela reacção. «Continua», disse Sam.
Céptica, Young testou o som da sirene. De uma forma tipicamente autista, o filho não conseguia parar de ver um filme até acabar o genérico. Ele estava a cantar com My Fair Lady quando a mãe disse que tinham de desligar a televisão. Como Sam começou a ficar enervado, Young disse: «Sam, está tudo bem…(sirene)…temos de sair agora…(sirene)… podemos ver o filme depois …(sirene)…»
Sam acalmou. Ainda não queria deixar a mãe desligar a televisão, mas de repente começo a entoar com ela. Depois disse: «abraça-me», sentou-se ao seu colo, pôs os braços à volta da mãe e segredou: «canta comigo». Finalmente, Young pôde fazer avançar o filme rapidamente (anteriormente impossível) para poderem ver o genérico e desligar o aparelho.”
(Campbell, 2000, p. 295).
Reflexão:
A perturbação do
espectro do autismo consiste numa síndrome caraterizada por alterações
qualitativas na comunicação, na integração social e na realização do jogo
simbólico, que se carateriza pela rigidez e inflexibilidade do pensamento, da
linguagem e do comportamento, podendo este ser restritivo e repetitivo. Ocorre
frequentemente em crianças com 3 anos de idade (Padilha, 2008). “As crianças
com perturbação do espectro do autismo apresentam-se como “desconectadas”,
ausentes na sua presença, rítmicas nos seus rituais e nas suas estereotipias,
melódicas nas suas ecolálias e nos seus gritos, harmónicas nas suas
desarmonias” (Padilha, 2008, p. 70).
A música tem,
efetivamente, efeitos estimulantes sobre o cérebro, pois pode despertar a
atenção da pessoa e respostas emocionais ao estimular o Sistema Nervoso Central,
exercendo efeitos na perceção e nas ações motoras. Incluir a pessoa em atividades
musicais pode enriquecer as suas experiências, e consequentemente, permitir um
desenvolvimento saudável. Deste modo, a música, para além de treinar o cérebro,
mantém a cognição em funcionamento (Wolf
& Wolf, 2011).
Em contexto pediátrico,
a música pode ser aplicada a crianças de todas as idades, desde a gestação, na
qual a criança está no útero da mãe e ouve sons emitidos por esta, até ao
momento da adolescência. Durante procedimento dolorosos, tais como a
circuncisão ou o teste do pezinho, a música exerce influência no bem-estar da
criança, facilitando a realização dos mesmos, devido à calma que a música
proporciona (Wolf & Wolf, 2011).
No
exemplo demonstrado, observa-se a influência da música em crianças autistas, podendo-se
afirmar que a música pode exercer efeitos positivos no seu desenvolvimento e
ainda na relação que esta estabelece com o ambiente envolvente. De acordo com Wolf e Wolf (2011), a musicoterapia é
frequentemente utilizada no tratamento de crianças com autismo, visando ganhos
a nível cognitivo, comunicativo (verbal e não-verbal) e comportamental. Para
além disso, a música também corresponde a uma poderoso instrumento de
diagnóstico deste problema. Tem sido sugerido que a
música pode permitir auxiliar na organização do sistema nervoso e na integração
das diversas sensações de uma criança autista. Isto porque, normalmente, uma
criança autista não consegue distinguir a componente auditiva do discurso da
componente emotiva. Desta forma, o treino do tom e da ênfase pode ter um papel
importante na melhoria da comunicação da criança (Wolf & Wolf, 2011).
Relativamente à
comunicação, a musicoterapia permite melhorar a fala e a vocalização,
estimulando, simultaneamente, a cognição da criança. Para além disso, pode
também ter influência no comportamento sensitivo e motor (musica rítmica pode
melhorar os movimentos estereotipados e repetidos), na criatividade e na
satisfação emocional. A criança adquire conhecimento através dos estímulos que
recebe no seu dia-a-dia, e portanto quanto maior for o numero de estímulos,
mais desenvolve a sua mente. As músicas rítmicas permitem à criança participar
ativamente e desenvolver os seus sentidos, nomeadamente a acuidade auditiva.
Assim, a criança ao imitar gestos desenvolve a coordenação motora, o ritmo e a
atenção, e ao cantar sons ela ganha consciência das suas capacidades e
relaciona-se com o ambiente envolvente (Padilha, 2008).
A utilização da música
permite às crianças autistas exprimirem-se não-verbalmente, facilitando, deste
modo, a comunicação e partilha de sentimentos com as pessoas significativas.
Algumas investigações, citando Cabrera (2005, cit. in Padilha, 2008),
comprovaram que de facto a música pode ter um papel positivo no comportamento
de crianças com autismo, contudo, se não for aplicado de forma correta e por
profissionais qualificados pode provocar efeitos nefastos.
Em suma, com este
exemplo percebe-se o quão difícil é lidar com uma criança autista, e portanto o
autismo exige muito dos cuidadores e dos profissionais de saúde que o
acompanham. De forma a facilitar este processo de desenvolvimento e a evitar o
isolamento da criança é aconselhável a utilização da criatividade e do bom
senso, através de recursos como imagens, músicas, jogos e brinquedos que
estimulem permanentemente as crianças, tanto de forma física como mental.
Referências
Bibliográficas:
Padilha, M.C.P. (2008). A musicoterapia no tratamento de crianças com perturbação do espectro
do autismo. Mestrado Integrado em Medicina (texto não publicado), Faculdade
de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior, Covilhã.
Wolf, L. &
Wolf, T. (2011). Music and health care.
Acedido
em 9 de Dezembro, 2012, em http://wolfbrown.com/images/articles/Music_and_Health_Care.pdf
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